Auschwitz

Lendo sobre esta visita vi várias histórias de tom emocionado, então cheguei lá com sentimentos antagônicos: ao mesmo tempo que achava que iria me emocionar, via isto como um tanto besta – depois de tantas histórias e tantos anos, quem realmente sente algo? Pois sou mais um que alerta: não importa o que você já leu, ouviu, todos os filmes e séries já assistidos…  nada prepara para a realidade – para as coisas que você ouve aqui. É algo avassalador, e tão absurdo que você entende porque tanta gente na época não acreditava – isto é a prova do que somos capazes. Como disse a guia em determinado momento: “tudo o que podia ser feito para aumentar o sofrimento de quem estava aqui, era feito“.

 Como chegar: Ao contrário da mina de sal, foi bem tranquilo ir sozinho até ali. Vá até o terminal de ônibus, que fica junto ao terminal principal de trem, e peça informações. Dali, partem vans que te deixam na entrada do complexo. Chegando lá, já li que pode entrar sozinho – mas vale muito a pena pegar um tour guiado – repito: mesmo que haja muita gente, faça o tour guiado! Fiz em espanhol (achei que haveria menos gente que em inglês, mas no final foi a mesma coisa) e a guia foi simplesmente o máximo.

Auschwitz

Para quem vai lá, creio que o melhor é nem ler muito ou ver as fotos do que encontrará, pois o impacto é maior. Mas escrevo assim mesmo: entramos seguindo o famoso portão com a frase que havia em todos os portôes de campos de extermínio, provavelmente a mais cínica já escrita pelo homem: “Arbeit macht frei” – “O trabalho liberta“.

O Trabalho Liberta

O Trabalho Liberta

Ali dentro, os vários galpões são mostrados – podemos tirar fotos dos campos, mas não dentro. Do lado de fora, temos o lugar de tortura e fuzilamento, principalmente de presos politicos, as cercas de arame, as guaritas…, dentro nos galpões foram formados espécies de museus com retratos, objetos, roupas, cabelos… e durante tudo isto, as histórias absurdas escritas em painéis, ou ouvindo os guias.

Histórias de como os prisioneiros que faziam algo considerado errado sofriam castigos bastante pesados, ao final ficando sem condições de trabalhos – e gente sem condição de trabalho morre. Histórias sobre a expectativa de vida de 4 meses, das pessoas que antes de entrarem nas câmaras deixavam a roupa dobrada e separada – para não dar trabalho para os guardas. Como os cabelos eram raspados antes da morte e aproveitados para forrar almofadas e protetores de cama. As histórias de ‘Tio Mengele’ e suas experiêncas macabras… e para finalizar, a câmara de gás! – que afinal era utilizada por ser o método mais humano para morrer – não para os assassinados, pois a morte ali era terrivel – mas para os assassinos, que assim não tinham qualquer contato com suas vítimas.

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  O tour guiado em Auschwitz dura em torno de 2 horas e vale muito a pena para você ouvir as histórias, ver o que aconteceu naqueles lugares, entender um pouco mais do horror que foi o holocausto. O tour, até onde eu saiba, é só Auschwitz – mas nossa guia continuou conosco também em Birkenau – e se Auchwitz é traumático, Birkenau é o Inferno.

Chaminé de Câmara de Gás

Chaminé de Câmara de Gás

BIRKENAU

Para chegar em Birkenau (ou Auschwitz II) pega-se um ônibus em frente ao centro de informações, que passa a cada 30 minutos. Em Auschwitz cabia pouca gente (30 mil), e como foi construido originalmente como estábulo, havia certo conforto. Aqui não – Birkenau foi criado como campo de extermínio desde o início – construído pelos próprios prisioneiros. Assim, eles construiram primeiramente alguns barracões para dormir – e somente depois que já haviam sido transferidos há tempos é que criaram alguns banheiros e lugares para ducha – no total, cabiam 100 mil pessoas por vez, todo dia chegando mais gente e, por consequencia, todo dia morrendo gente.

Os galpões aqui podem ser fotografados e podemos ver claramente quão terríveis eram – as pessoas que ficavam nos andares de baixo das camas viviam cerca de 1 mês, pois ali conviviam com menos ar, mais sujeira, imundície e os ratos. Quando estive lá estava um sol absurdo, dos dias mais quentes da viagem; mas nossa guia insistia: hoje está bom na comparação com o inverno, pois tinham pouca roupa e o inverno rigoroso chega a -30º, com tudo o que isto trás de doenças, frio – e as pessoas tendo que fazer caminhadas para o trabalho na neve, tendo que esperar mais de 12 horas, totalmente nuas, do lado de fora dos barracões, para tomar um banho.

 Barracões de dormir

Barracões de dormir

O lugar que mais me impressionou foram as latrinas – temos ali um amontoado de buracos, onde todos vinham e tinham que fazer suas necessidades agachados lado-a-lado. Para piorar: tinham 1 minuto pela manhã e 1 minuto pela noite – passado este tempo, havia alguém que cuidava para tirá-los de lá. Frase que ela ouviu de antigo prisioneiro: “Quando veem isto, dizem que éramos tratados como animais, mas isto não é verdade: um animal faz suas necessidades onde quiser, quando quiser – e nós não“.

Banheiros

Banheiros

Para finalizar este dia de horror, vemos o que restou dos crematórios(ao final da guerra, os nazistas tentaram destruir tudo), e também um lago onde os queimados tinham suas cinzas jogadas – pois serviam de adubo para as plantações. No fim das 4 horas de caminhada pelos campos, minha conclusão era: Viver aqui era tão terrível que era melhor ir diretamente para a câmara de gás do que viver num lugar destes – mas é claro que nosso desejo de viver é muito mais forte do que tudo isto, tanto que umas poucas centenas conseguiram chegar vivos até o final.

Trens vinham de toda a Europa

Trens vinham de toda a Europa

Homenagem em um lago de cinzas

Homenagem em um lago de cinzas

Calcula-se em 1,5 milhão de pessoas mortas aqui, principalmente judeus e ciganos (e muitos morriam no caminho, como judeus gregos que ficavam dentro de trens super-lotados sem água, comida ou parada para banhero por 10 dias)Sim, é o lugar onde ocorreram as piores atrocidades da história, mas é muito importante manter viva a memória de que a bondade do homem tem limites, mas nossa maldade não.  Pior que vendo tudo isto, pensamos que aprendemos algo – mas dias depois em Budapeste ouvi histórias de coisas parecidas praticadas pelos russos contra o povo de lá bem depois do fim da Guerra- mostrando que não aprendemos nada!

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4 Respostas

  1. Alex Melo, gratidão pelas informações compartilhadas. Tenho um desejo antigo de conhecer este campo de concentração. Acho que todas as pessoas precisam ver de perto essas atrocidades para que isso não volte acontecer.

  2. Olá amigo, muito boa sua aula. Estou indo para Berlin no próximo dia 16 de outubro,e estou querendo ir até Auschwitz, só que estou penando para encontrar a melhor forma, gostaria de ficar um dia só por lá, saberia me informar qual a forma menos complicada, já que eu estaria em Berlin, e sou semi analfabeto em Inglês ? Obrigado, Fabiano.

    • Fabiano,
      Não fui para Berlim, mas acho que 1 dia somente é muito apertado…De trem são 10 horas entre as cidades, então avião mesmo.
      No http://www.skyscanner.com.br/ que achei alguns voos entre Berlim e Krakovia (e parece que nem é tão caro).
      Vá cedo para Krakow, conheça a cidade e vá no dia seguinte para Auschwitz. Se for bem cedinho para lá, consegue voltar no mesmo dia para Berlim (ainda que eu ache corrido demais, mas o voo é curto)

      Se inglês for um problema muito sério, pode valer agendar com uma das agências que vendem excursões e ficam próximas ao centro histórico – ou o próprio hotel que ficar hospedado deve conseguir te ajudar. Já se tiver um inglês mis ou menos, vá por conta e chegando em auschwitz pegue um tour em portugues ou espanhol.

      Abraço,

  3. Obrigada pelo relato e pelas informações!! Me ajudou muito a planejar o meu!! Um abraço

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